Hoje em dia, o cenário econômico global está repleto de incertezas, sobretudo quanto à inflação global.
Por causa disso, vários países começaram a adotar diferentes tipos de criptomoedas, para sobreviver e escapar do aumento dos preços.
Um desses países é a Argentina, onde a inflação atingiu a impressionante marca de 110% em apenas 12 meses. A título de comparação, a inflação brasileira está abaixo de 5% quando comparada à Argentina – no mesmo período.
Além da inflação voraz, a Argentina também lida com uma queda na sua reserva de dólares, que chegou a menos de US$ 5 bilhões em maio. Sem moeda forte, o país não consegue importar bens básicos, o que contribui para o aumento da crise.
Mas qual a situação econômica da Argentina e o que as criptomoedas têm a ver com isso? Este será o tema do texto de hoje, portanto confira o dilema da economia dos hermanos argentinos.
O que este artigo aborda:
Do luxo ao confisco
Os economistas costumam dizer que existem quatro tipos de países: desenvolvidos, em desenvolvimento, Japão e Argentina.
A Argentina é um exemplo de país que já esteve entre os mais ricos do mundo, mas hoje tem mais de 40% de sua população abaixo da linha da pobreza.
Até o início do século XX, a Argentina era a segunda maior economia das Américas, atrás somente dos Estados Unidos, e a quinta maior do mundo.
De fato, os ingleses utilizavam a expressão “rico como um argentino” para se referir a alguém que tinha uma imensa fortuna.
No entanto, a situação mudou a partir dos anos 1940, quando Juan Domingo Perón assumiu o poder no país. A partir daí, a Argentina começou a implementar medidas populistas que dilapidaram toda a riqueza que o país acumulou nos 100 anos anteriores.
Além disso, o país também enfrentou um regime ditatorial (como boa parte da América Latina) marcado por corrupção e crises econômicas.
Como resultado, a economia argentina chegou a enfrentar uma inflação de 5.000% durante as décadas de 1980 e 1990.
Uma nova esperança
Foi então que em 1992, o país adotou uma medida que visava controlar a inflação: atrelar o valor do peso ao dólar. Na época, a moeda argentina ainda era o austral, mas a mudança para o peso foi anunciada.
Com o novo peso atrelado ao dólar, a Argentina passou a ter duas moedas oficiais. O peso e o dólar circulavam na economia do país e a moeda nacional valia exatamente US$ 1,00. O governo não podia imprimir mais pesos se não entrasse mais dólares, e tinha que retirar pesos sempre que dólares saíam.
A medida é criticada atualmente, mas enquanto o governo seguiu as regras do regime, a inflação do país simplesmente desabou. Durante os anos 1990, a Argentina viu sua inflação cair para menos de 1% ao ano – mais de 100 vezes menor que a taxa atual.
Paridade e confiscos
Só que nos anos 2000, o governo argentino começou a emitir pesos para aumentar seus gastos, o que feria as regras do regime de paridade. Ao invés de reduzir gastos, porém, o governo preferiu retirar as amarras e acabar com a conversão.
Em 2001, a Argentina fez o pior: confiscou os dólares da população (os bancos argentinos permitem abertura de conta em dólar) e desvalorizou o peso. Enquanto a cotação do mercado dava 3 pesos por dólar, o governo converteu os dólares das pessoas a uma taxa de 1,4 pesos.
Ou seja, literalmente da noite para o dia, os argentinos perderam mais de 60% de seu poder de compra.
Conhecido como corralito, o episódio causou um trauma tão forte nos argentinos que abriram espaço para que, no futuro, as criptomoedas prosperassem por lá.
Atualmente
Hoje em dia, a economia da Argentina é fortemente dolarizada: com exceção de pequenos negócios, ninguém usa o peso. Compras de imóveis, viagens e até contratos de jogadores de futebol do país são negociados em dólares.
Para diminuir essa adoção, o governo impõe fortes controles de câmbio que restringem o acesso da população a dólares. E sem poder comprar a moeda americana, os cidadãos passaram a recorrer a criptomoedas.
De acordo com dados recentes, a Argentina é o país da América Latina que mais utiliza duas criptomoedas: o Bitcoin (BTC) e a USDT, uma stablecoin cujo valor é atrelado ao dólar. As pessoas utilizam ambas tanto para realizar transações quanto para proteger seu poder de compra.
Afinal, enquanto o peso argentino afunda cada vez mais (hoje um dólar vale quase 500 pesos), o BTC já se valorizou mais de 10.000.000% na moeda local, quebrando vários recordes. E adquirir BTC tende a ser mais fácil do que comprar dólar, fazendo da criptomoeda uma reserva de valor por excelência.
Em suma, a adoção do BTC na Argentina é um movimento natural que reflete a forte crise econômica do país. O BTC virou o maior bote salva-vidas que os argentinos possuem contra o naufrágio de sua decadente moeda.
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